Segundo o filósofo Jose Eduardo Oliveira e Silva, a festa de São Cosme e Damião, padroeiros dos médicos e farmacêuticos, comemorada pela Igreja Católica no dia 26 de setembro, juntamente com a intensa ligação popular com o Dia das Crianças e a distribuição de doces no dia 27, reflete um dos fenômenos mais intrigantes da religiosidade do Brasil: o sincretismo religioso. Este entrelaçamento de tradições católicas e afro-brasileiras, embora culturalmente rico, por vezes gera confusão sobre a doutrina oficial da Igreja.
Se você deseja compreender a distinção entre a veneração católica, honrar a devoção aos santos católicos e, ao mesmo tempo, reconhecer a beleza da diversidade cultural brasileira, continue lendo a seguir!
A história de São Cosme e Damião na tradição católica
Na tradição da Igreja Católica, São Cosme e Damião eram irmãos gêmeos que viveram na Ásia Menor, por volta do século III, e se tornaram notáveis por exercerem a medicina de forma altruísta, curando os enfermos sem aceitar pagamento. Por essa razão, são conhecidos como anargiros, que significa “sem dinheiro”. O altruísmo e a caridade dos irmãos eram uma forma de testemunho do Evangelho, levando as pessoas a Cristo por meio do cuidado com o corpo.
De acordo com o teólogo Jose Eduardo Oliveira e Silva, a Igreja celebra o martírio dos irmãos, que foram executados por ordem do imperador romano Diocleciano devido à sua fé cristã. Sua história é um exemplo de caridade e devoção incondicional. A festa litúrgica no calendário católico, atualmente, é celebrada em 26 de setembro, tendo sido alterada em 1969 para dar espaço à celebração de São Vicente de Paulo no dia 27.

O catolicismo venera Cosme e Damião por seu exemplo de serviço à vida e à saúde, sendo padroeiros de todos que se dedicam à arte de curar. Sua relação com a infância, na Igreja Católica, se estabelece mais pelo seu papel de protetores da vida e por serem figuras de grande ternura, sem a ligação direta e explícita com a distribuição de doces.
Sincretismo: A conexão com o Dia das Crianças e a distribuição de doces
A associação de São Cosme e Damião com o Dia das Crianças e a tradição de dar doces é um fenômeno sincrético, predominante em religiões de matriz africana, como o Candomblé e a Umbanda. Nestas tradições, os santos católicos foram sincretizados com os Ibejis (ou Erês), os orixás gêmeos da alegria, da brincadeira e da infância.
Como comenta o sacerdote Jose Eduardo Oliveira e Silva, durante o período da escravidão, para driblar a perseguição religiosa e manter os cultos, os africanos escravizados associaram seus orixás a santos católicos, estabelecendo uma correspondência de nomes ou de atributos. A devoção aos Ibejis, que representam a pureza e a força da vida em seu início, manifestou-se na prática da distribuição de doces e caruru, como forma de homenagem e de agradecimento.
Essa celebração sincrética ganhou enorme popularidade, especialmente no Rio de Janeiro e na Bahia, onde o dia 27 de setembro se tornou o dia dedicado a essas divindades crianças e, por extensão, um dia de festa popular com foco na doação de doces.
Qual é o posicionamento da Igreja Católica diante do sincretismo?
A Igreja Católica, embora respeite as manifestações culturais e a fé popular, distingue a veneração dos santos Cosme e Damião de práticas sincréticas que não fazem parte de sua doutrina. O papel da Igreja é o de clarificar a fé e a vida dos mártires, enfatizando a caridade, a medicina gratuita e o testemunho de Cristo.
Conforme Jose Eduardo Oliveira e Silva, embora a Igreja não promova a distribuição de doces em nome desses santos, todo ato de caridade e amor que visa à felicidade das crianças é bem-vindo, especialmente o dia dedicado a elas, 12 de outubro, que, no Brasil, é um feriado civil.
A essência do ensinamento católico é que todo gesto de amor e carinho, como a doação de alimentos ou brinquedos, é um ato de caridade que remete ao mandamento cristão de amar o próximo. O importante é a intenção de promover a alegria e a dignidade das crianças, independentemente da data.
São Cosme e Damião: Fé, cultura e amor pelas crianças!
A devoção a São Cosme e Damião e o Dia das Crianças são celebrações que se cruzam no calendário e no imaginário popular brasileiro, mas que possuem raízes e significados distintos na Igreja Católica e nas religiões de matriz africana.
Como pontua o Pe. Jose Eduardo Oliveira e Silva, o mais importante neste cenário de rica diversidade é a mensagem comum que transcende as diferenças: o valor inestimável da vida, o amor incondicional ao próximo e, sobretudo, o cuidado e a defesa das crianças, que são o futuro da humanidade. Seja através da homenagem católica aos mártires da caridade, seja pela alegria expressa no sincretismo, o foco no bem-estar e na pureza da infância é uma mensagem universal que merece ser celebrada.
Autor: Parga Kaveron