A armazenagem é um dos pilares da eficiência logística no agronegócio, explica o empresário e fundador Aldo Vendramin. No entanto, o Brasil ainda convive com um déficit estrutural de silos, que limita o escoamento da safra e pressiona os custos. Com a crescente adoção do modelo on-farm e novas tecnologias de secagem, o cenário começa a mudar, aproximando o produtor do controle total da sua produção.
Ter um sistema de armazenagem próprio não é mais luxo, é estratégia. Os silos deixaram de ser apenas depósitos de grãos e se tornaram instrumentos de gestão, tecnologia e sustentabilidade.
Venha compreender como os silos ganham destaque na estratégia de negócio para sua produção.
Da história à modernização: a cultura do silo no Brasil
Os primeiros silos no país surgiram em meados da década de 1960, quando o avanço da mecanização agrícola começou a exigir soluções de armazenagem mais eficientes. Nas décadas seguintes, cooperativas e cerealistas passaram a investir em grandes estruturas metálicas, mas a capacidade estática nacional nunca acompanhou o ritmo da produção.

Em 2025, segundo a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), a capacidade total de armazenagem no Brasil gira em torno de 213 milhões de toneladas, enquanto a produção de grãos ultrapassa 310 milhões de toneladas. Isso significa que pelo menos um terço da produção não tem onde ser armazenada adequadamente.
Conforme informa o senhor Aldo Vendramin, essa disparidade revela um problema logístico e financeiro: sem armazenagem, o produtor é obrigado a vender logo após a colheita, quando os preços estão mais baixos. A solução está no fortalecimento do modelo on-farm, que permite ao agricultor secar, limpar e conservar o grão dentro da propriedade, com autonomia de tempo e preço.
A ascensão do modelo on-farm
Os silos instalados nas fazendas representam hoje cerca de 28% da capacidade de armazenagem nacional, número que vem crescendo mais rápido que o das estruturas coletivas. A tendência se explica por três fatores:
- Custo-benefício a médio prazo: o investimento inicial é alto, mas o retorno vem em até 5 safras, considerando economia com transporte e ganho de preço de venda.
- Controle de qualidade: o produtor monitora temperatura, umidade e infestação, evitando perdas e melhorando o padrão comercial.
- Agilidade logística: reduz o tempo de fila nos armazéns de terceiros e permite escoar de forma estratégica conforme a demanda.
Nos últimos anos, a evolução tecnológica dos sistemas de secagem e a adoção de painéis solares e automação têm tornado os silos on-farm mais acessíveis. Hoje, empresas brasileiras oferecem modelos modulares que se adaptam ao tamanho da propriedade, reduzindo custos e ampliando a eficiência energética, como ressalta Aldo Vendramin.
Silos e sustentabilidade: a nova pauta do agro
A modernização da armazenagem também está alinhada à pauta ambiental. Estruturas mais modernas contam com controle automatizado de ventilação e energia limpa, reduzindo o consumo elétrico e o desperdício de grãos.
Além disso, há um avanço na adoção de secadores de ar natural e de baixa temperatura, que consomem menos combustível e preservam a qualidade do produto. Essa mudança contribui para uma produção mais sustentável e para a redução de emissões de carbono, um tema que, como menciona o senhor Aldo Vendramin, passou de tendência a exigência nos mercados internacionais. O uso de bioinsumos e de sensores digitais nos silos também reforça a rastreabilidade, garantindo que o produto mantenha o padrão de qualidade exigido em exportações.
O papel das cooperativas e das políticas públicas
As cooperativas agrícolas ainda desempenham papel central na oferta de armazenagem coletiva. Muitas delas têm investido em estruturas compartilhadas e modelos híbridos, que permitem ao cooperado armazenar parte da produção e comercializar o restante em conjunto.
Do lado público, o Plano Safra 2025/26 ampliou as linhas de crédito para armazenagem, com juros diferenciados para produtores que comprovem práticas sustentáveis. O Programa de Construção e Ampliação de Armazéns (PCA), administrado pelo BNDES, continua sendo a principal fonte de financiamento para silos metálicos e graneleiros. Essas medidas ajudam a equilibrar o déficit e fomentar a interiorização da infraestrutura logística, um desafio histórico em um país de dimensões continentais.
Inovação e dados: o futuro da armazenagem
A revolução tecnológica chegou aos silos. Sistemas de monitoramento remoto permitem ao produtor acompanhar temperatura, umidade e infestação em tempo real, via aplicativos e painéis online. A análise de dados integrada à agricultura de precisão ajuda a identificar padrões de perda e ajustar parâmetros de ventilação automaticamente.
Há também startups brasileiras desenvolvendo modelos de silos inteligentes, com sensores conectados por IoT (Internet das Coisas) e integração com plataformas de Business Intelligence (BI). Essas ferramentas transformam o armazém em uma extensão da gestão produtiva, conectando o armazenamento à estratégia financeira da fazenda.
Aldo Vendramin destaca que o produtor moderno precisa enxergar o silo como parte da tomada de decisão, quem tem dados, escolhe melhor quando e quanto vender.
Armazenar é planejar
O desafio da armazenagem vai além da estrutura física, envolve gestão, tecnologia e visão estratégica. O produtor que investe em silos on-farm ganha liberdade de mercado, qualidade de produto e previsibilidade de receita.
Em um cenário de safras recordes e demanda crescente, armazenar é planejar. E essa mentalidade, como reforça Aldo Vendramin, representa a maturidade de um agro que une produtividade e inteligência, guardando no silo não apenas grãos, mas valor.
Autor: Parga Kaveron
