A recente introdução de uma criptomoeda pelo presidente da Argentina, Javier Milei, gerou uma crise política significativa. O anúncio, feito na última sexta-feira, 14 de fevereiro, resultou em uma forte desvalorização do ativo em questão, levando à abertura de uma investigação. A oposição classificou o episódio como “o mais grave ato de corrupção da história argentina”, evidenciando a gravidade da situação. A crise não apenas afeta a imagem de Milei, mas também levanta questões sobre a regulamentação e a ética no uso de criptomoedas por figuras públicas.
Milei promoveu a criptomoeda, chamada $Libra, como parte de seu projeto “Viva La Libertad”. Em suas postagens, ele incentivou o investimento no ativo, afirmando que “o mundo quer investir na Argentina”. A $Libra é uma memecoin atrelada a uma tecnologia blockchain, mas sem lastro em dinheiro real. Após o anúncio, o valor da criptomoeda disparou, alcançando US$ 4.978 (aproximadamente R$ 28.375), antes de sofrer uma queda acentuada, o que gerou desconfiança entre os investidores.
A valorização inicial da $Libra foi seguida por uma rápida desvalorização, que ocorreu quando os desenvolvedores começaram a vender seus ativos. Thiago Barbosa Wanderley, advogado tributarista especializado em criptoativos, comentou que muitos utilizam essa tecnologia para enganar pessoas que buscam enriquecimento rápido. A situação se agravou quando Milei apagou sua publicação após cerca de cinco horas, alegando que não estava ciente dos detalhes do projeto no momento do anúncio.
O economista Juan Enrique, diretor da Sigma Global, descreveu o ato de Milei como criminoso, afirmando que o presidente usou seu cargo para beneficiar interesses obscuros. Enrique destacou que a publicação de Milei representou uma “oferta de mercado” sem a devida autorização da Comissão de Valores Mobiliários da Argentina. Ele argumentou que o presidente incitou investidores internacionais a apostarem na memecoin, o que pode ter violado várias leis.
As memecoins, como a $Libra, são conhecidas por sua alta volatilidade e baixa funcionalidade. Wanderley explicou que esses ativos geralmente têm uma vida útil curta, subindo rapidamente antes de cair no esquecimento. Ele considerou incomum a velocidade da desvalorização da $Libra, ressaltando que, após um aumento na demanda, os idealizadores da moeda costumam vender seus ativos, resultando em perdas para os investidores.
Os idealizadores da criptomoeda são os principais beneficiados nesse tipo de esquema. Wanderley observou que, inicialmente, os proprietários disponibilizam apenas uma pequena porcentagem das moedas virtuais. Com o aumento da demanda, eles colocam mais ativos em circulação, e, quando a valorização inflacionada ocorre devido a anúncios como o de Milei, começam a vender, lucrando com a situação.
Diante da crise, a oposição acusou Milei de estimular um esquema de pirâmide. Mesmo após a remoção do anúncio, o presidente enfrentou críticas severas. O gabinete de Milei decidiu encaminhar o caso ao Escritório Anticorrupção, que investigará se houve conduta imprópria. A ex-presidente Cristina Kirchner, por sua vez, anunciou que o bloco centro-esquerda peronista apresentará um pedido de impeachment contra Milei, chamando-o de “golpista das criptomoedas”.
A possibilidade de impeachment dependerá da comprovação de que Milei obteve benefícios financeiros com a desvalorização da $Libra. Wanderley destacou que, para que haja consequências jurídicas, é necessário provar que a valorização inflacionada do criptoativo trouxe ganhos ao presidente. Ele lembrou que, em casos semelhantes, como o do ex-presidente dos EUA Donald Trump, a evidência de ganho econômico é crucial para a efetivação de ações legais. A situação continua a se desenrolar, e as implicações políticas e econômicas do caso ainda estão por vir.